O recomeço através da culinária

Por Clara Marques, Elaine Bertoni e Giulia Villa Real

A culinária estrangeira sempre fez sucesso no Brasil, principalmente pelas influências europeias. De uns anos para cá, com as crises políticas e conflitos no Oriente Médio, o número de refugiados aumentou no país e consequentemente a quantidade de restaurantes típicos. A cidade de São Paulo recebeu muitos desses restaurantes, sobretudo na região central.

Em 2016 foram reconhecidos um total de 9.552 refugiados de 82 nacionalidades, de acordo com os dados do CONARE (Comitê Nacional para Refugiados). Países como Síria e Palestina são os que tem o maior número de refugiados reconhecidos no Brasil.

Os donos dos restaurantes New Shawarma, Ogarett e Al Janiah fazem parte desses números. Para eles, o recomeço em um país diferente veio através da gastronomia. Ambos possuem hoje seu próprio restaurante de comida árabe no centro de São Paulo.

New Shawarma

Foto: Giulia Villa Real/Chefe do New Shawarma, Imad Abouharb

Em 2011, Eyad Abouharb deixou Damasco, capital da Síria, para não servir o exército durante a guerra. “O que acontece lá é um conflito de interesses políticos internacionais”, diz. Chegou no Brasil em 2013, após passar um tempo no Líbano e na Jordânia. Trabalhava como chef de cozinha no seu país e hoje, já bem instalado na cidade, conta também com a ajuda de seu irmão, Imad, no comando do restaurante New Shawarma, em frente à Mesquita do Pari, na Rua Barão de Ladário, 897, desde 2016.

Foto: Giulia Villa Real/Chefe do New Shawarma, Imad Abouharb

Como muçulmanos, eles afirmam que nunca sofreram discriminação ou qualquer tipo de preconceito. Quando questionado sobre a escolha da vinda para o Brasil, Eyad não esconde seu sentimento de gratidão, “foi o único país que nos recebeu de coração aberto. Eu amo o povo daqui, não existe igual. ”

Foto: Giulia Villa Real/ Shawarma de frango

Enquanto prepara um dos lanches típicos, o shawarma — sanduíche feito de pão sírio, pasta de alho, picles, frango e batata frita. Ele acrescenta que sua família ainda está na Síria, numa região mais segura, mas pretende trazê-la em breve para São Paulo. “A nossa comida, nosso tempero, vem dos nossos ancestrais, não existe igual”, enfatiza Eyad.
O valor médio dos pratos é de R$10. O local fica aberto de segunda a sábado, das 9h às 18h.

Foto: Giulia Villa Real/ Cardápio tem preços acessíveis

Ogarett

Foto: Giulia Villa Real/Ogarett, localizado no Pari

Há três anos, Mazen Alkujook veio para o Brasil com sua esposa e três filhos — e hoje com um nascido em São Paulo —, deixando em Damasco dois restaurantes que comandava. Já foi morador de Mogi das Cruzes, logo que chegou ao país, Tatuapé e atualmente possui o restaurante Ogarett na Rua Doutor Ornelas, 150, no bairro do Pari, a poucos quarteirões do New Shawarma.

Foto:Giulia Villa Real/Funcionário preparando um dos pratos

As mesinhas na calçada e o forno não muito convencional dão um ar descontraído ao ambiente que serve pratos típicos do Oriente Médio, entre eles o falafel, esfihas, kafta, sujek (sanduíche de carne picante) e doces como o de gergelim.

Foto:Giulia Villa Real/Falafel, prato típico

Alguns parentes, também vindos da Síria,  tentam ao máximo entender o português, e quando não, apelam para o inglês. As diferenças culturais são muitas e o idioma pode até dificultar o entendimento, mas a sensação de acolhimento faz valer o esforço. Os preços variam de R$4 a R$25. O restaurante fica aberto de segunda à sábado, das 11h às 20h.

Foto: Giulia Villa Real/ Kafta e Fahita são os pratos mais pedidos

Al Janiah

A história desse restaurante é um pouco diferente das outras. Hasan Zarif, filho de país refugiados da Palestina, nasceu em São Paulo. Hoje é um dos organizadores da ocupação Leila Khaled e membro da Mopat (Movimento Popular Palestina Para Todos), teve a necessidade de discutir e esclarecer as questões do refugiado e criou o seu restaurante.

Foto:Estadão Conteúdo/ Hasan Zarif, dono do Al Janiah

O Al Janiah, localizado na rua Rui Barbosa, 269, na Bela Vista, ficou conhecido por ser um ambiente descontraído e com uma ótima comida. Os cozinheiros Mohamad Othman, Mohamad Isa, Wissam e Rami são muçulmanos, mas não se importam com a algazarra e o consumo de álcool no local. Os quatro são refugiados sírios e estão no Brasil desde 2013, quando a guerra civil explodiu.

Foto:Estadão Conteúdo/Cozinheiros do Al Janiah

Falafel, Shawarma, Kafta e outros clássicos são as estrelas do restaurante. Mas não pode deixar de experimentar o Palestina Libre, que mistura araque, uma bebida típica árabe, com cachaça, limão, pimenta-biquinho e zátar verde.

Foto:Estadão Conteúdo/Palestina Libre

Os preços são acessíveis, na média pratos e aperitivos saem por R$15. O restaurante abre de terça-feira a sábado das 18:00 as 00:30.

 

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